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Junho 23, 2008

“Se não aconteceu, podia ter acontecido”

Filed under: Reflexões — carlacerqueira @ 11:42 am
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No dia 6 de Junho de 2008 o Inimigo Público publicou:
Feministas modernas vão queimar implantes de silicone na Gulbenkian
De 26 a 28 de Junho vai realizar-se um Congresso Feminista na Fundação Gulbenkian, organizado pela União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), cujas organizadoras prometem não queimar soutiens, para contrariar o estereótipo. “Nós somos mulheres modernas. Vamos destruir o novo símbolo da sujeição da mulher à vontade masculina: os implantes de silicone. Mas como eles são resistentes ao calor, vamos explodir duas tetas falsas, como os taliban fizeram aos dois budas Bamyan”, explicou Maria Teresa Horta, uma das feministas envolvidas no congresso. “E aconselhamos vivamente todas as mulheres a verem o filme ‘Sexo e a Cidade’ e a não comerem pipocas, mas testículos de porco salteados, como forma de mostrar o desprezo pela pseudo- superioridade masculina”, concluiu.
Maria Teresa Horta, uma conhecida activista pelos direitos direitos das mulheres e co-autora do livro “Novas Cartas Portuguesas”, sentiu-se ofendida com algumas expressões do suplemento humorístico do jornal Público e enviou uma carta ao Provedor do Leitor. A escritora e feminista considera que a sua dignidade foi posta em causa. Assim, escreveu para o jornal, pedindo o direito de resposta, e para o provedor. No blog de Joaquim Vieira apresenta-se a justificação da recusa do exercício do direito de resposta, a par da sua opinião sobre a carta de Maria Teresa Horta.
Penso que a activista tem todo o direito de se sentir ofendida, até porque todas as afirmações publicadas estavam no discurso directo. Seria uma “piada”, à boa (ou má) moda portuguesa….e como se diz no Inimigo Público: “se não aconteceu, podia ter acontecido”…A mim parece-me que essa possibilidade é bem remota, mas deixo a minha opinião sobre este assunto e retomo o que interessa.
Acho de um extremo mau gosto e, acima de tudo, de uma falta de respeito tremenda, que se diga nesta resposta de Joaquim Vieira que “Ao fim de 246 números (quase cinco anos de publicação), será suposto que os leitores do PÚBLICO conheçam a regra, maxime alguém como Maria Teresa Horta, veterana na área da comunicação social e da intervenção no espaço público.” O provedor está simplesmente a dizer que Maria Teresa Horta não tem o mínimo de credibilidade para argumentar enquanto jornalista.
No mesmo texto, o autor refere-se a algumas pessoas que estão do lado da cidadã e feminista como “claque”. “O IP apenas faz uma caricatura da sua militância feminista no tom habitual, pelo exagero e o excesso (no estilo do título citado), não vislumbrando o provedor razões para a indignação da visada ou da sua claque paulista. A sátira pressupõe distanciamento, tolerância, poder de encaixe e um sorriso… mesmo que amarelo. Não que a levem demasiado a peito, como aqui sucedeu.”
Não percebo onde está a piada…aliás, ao ler este texto do provedor fico mesmo com um sorriso amarelo (ou pior ainda). Não entendo porque opta por um tom tão agressivo…Mas não nos esqueçamos que todos os discursos veiculam ideologias… Esta reacção poderá ser entendida como uma tentativa de “denegrir” o movimento feminista nacional?
Há mesmo que desconstruir muitos estereótipos…para o bem de uma sociedade que assenta na justiça social.
Além disso, respostas como esta motivam mesmo os leitores para escreverem para o provedor…É quase: “Se queres ser ainda mais ofendido, não te esqueças de escrever ao provedor do leitor. Ele vai encontrar todos os argumentos para ofender mais do que possas imaginar”.
Às vezes fico quase sem palavras…e não escrevo este texto por fazer parte da “claque” (que o faço com muito gosto), mas porque entendo que o tom do provedor não é o mais adequado para uma resposta aos seus leitores…fosse o tema que fosse…

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